Quando a água para de cair na torneira, a dona de casa Adelina Maria Freire, 78, suspende tudo que pode para economizar. "A gente 'regra' a água. Deixa a roupa sem lavar, prato sem lavar, para guardar o que tem, porque sem água a gente não tem como viver", disse.
Há mais de 30 anos ela mora em Vitória da Conquista, que desde 2012 raciona água: três dias com fornecimento, três dias sem.
O município, distante 519 quilômetros de Salvador, é abastecido pela barragem de Água Fria II, que está em situação crítica, segundo levantamento do volume útil de água de reservatórios públicos da Bahia, divulgado semanalmente pelo Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema).
De acordo com os dados da edição do último 27 de setembro, das 16 principais barragens localizadas na Bahia, acompanhadas pela Secretaria Estadual de Infraestrutura Hídrica e Saneamento (Sihs), quatro estão em situação crítica - Água Fria II é uma delas. Outras quatro, em alerta, e as oito restantes, em situação normal.
Estes reservatórios são os "principais", segundo o diretor de segurança hídrica da Sihs, Marcelo Abreu, por causa do abastecimento humano e  produção agrícola.
Daqueles em estado crítico, três são estaduais, operados pela Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa) - Água Fria II, Joanes I e II - e Sobradinho, que é federal e operado pela Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf).
Sobradinho foi alvo de comentário recente do ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, por causa da possível redução da água e com o volume morto sendo alcançado até o final deste ano. Está prevista uma redução da vazão de 800 m³/s para 700 m³/s.
A classificação da situação como crítica é definida, segundo o diretor de revitalização de bacias hidrográficas da Sihs, José Olímpio de Morais, sobretudo pelo volume útil de água existente e pelos usos a que a barragem se destina, sobretudo o abastecimento humano.
Detalhamento
Morais e Abreu receberam a equipe de reportagem de A TARDE e detalharam a situação das 16 barragens. Em Água Fria II, a situação "só vive crítica", por causa do tamanho, pequeno para abastecer moradores de Conquista. Como solução, a aposta é a construção da barragem de Catolé, no rio de mesmo nome. A obra, segundo a Embasa, aguarda avaliação do Ministério das Cidades e liberação de recursos. No entanto, levará três anos para ficar pronta.
"O sistema integrado de lá é responsável pelo abastecimento de 310 mil pessoas em Conquista e mais 24 localidades. Água Fria II cheia já está crítica", disse Abreu.
A solução encontrada pelo estado foi implantar sistema de bombeamento emergencial, que retira água do rio Catolé e segue para Água Fria. No entanto, o problema não foi resolvido. Gastou-se, ainda, R$ 80 mil para aumentar a barragem para receber água de Catolé e instalaram mais uma bomba. Do Catolé retiram-se 400 litros/segundo (l/s). De outro riacho, o Gaveãozinho, mais 200 l/s ainda serão retirados, mas está ainda em fase de implantação.
Em Conquista, o racionamento ocorreu em 2012 e 2013. Este ano, foi iniciado em 23 de maio e prosseguirá, segundo a Embasa, pelo menos até a chegada da chuva na região, prevista para meados de novembro.
Pedra do Cavalo
Dos quatro barramentos em alerta, segundo avaliação da Sihs, dois são estaduais (Apertado e Pedra do Cavalo) e operados pela Companhia de Engenharia Hídrica e de Saneamento (Cerb). As outras duas são federais: Luiz Vieira e Mirorós.
Em Pedra do Cavalo, o volume útil é de 26,10%, com autonomia de 350 dias, o que significa que em um cenário hipotético sem chuvas, a água acumulada dura esse período. "Estamos considerando em alerta porque ela já cruzou a linha de alerta. Colocamos assim porque a responsabilidade é muito grande", disse Marcelo Abreu, diretor da Sihs.
Ao contrário da Sihs, a Embasa considera que Pedra do Cavalo está em "situação confortável", por ter autonomia superior a 200 dias. Sobre a situação de Salvador, a empresa informou que o sistema da capital recebe água de diferentes barragens e que a diminuição em um reservatório pode ser compensada pela "abundância" em  outros.
Já na barragem de Apertado, a preocupação é que, se a água se reduzir, afetará em torno de seis mil empregos diretos ligados à produção agrícola, além do abastecimento de Mucugê.
A previsão é que volte a chover em novembro na região. "Este ano, as informações climatológicas que temos apontam para  a possibilidade de um período normal de chuvas, de 2016 para 2017", destacou José Olímpio de Morais, diretor da Sihs.


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