Estudos do Incaper estão sendo desenvolvidos em Mucurici.
Planta serve de alimento em época seca e ainda tem 90% de água.

Patrick CamporezDe A Gazeta
Cacto será plantado no ES para servir de alimento (Foto: Divulgação/Incaper)Cacto será plantado no ES para servir de alimento (Foto: Divulgação/Incaper)
Uma espécie de cacto vai servir de alternativa para os produtores rurais do Espírito Santo alimentarem o gado em períodos de seca. Trata-se da palma forrageira, uma planta típica do sertão nordestino que já está sendo testada no município de Mucurici, no Norte do estado.

A descoberta e os testes são feitos por técnicos do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper).

Segundo os técnicos, essa é uma planta que tem alta tolerância à seca, por conta de sua estrutura morfológica e fisiologia, podendo ser adaptada de forma especial para absorção e aproveitamento de água em ambientes com condições climáticas adversas. A principal função da planta no estado será a alimentação animal, principalmente gado.

Apenas em Mucurici, cerca de mil bovinos morreram de fome e sede nos últimos 12 meses. “A mortalidade de animais foi muito grande, por isso temos a necessidade de ter um alimento verde na época da seca. E essa planta tem 90% de água”, destaca o engenheiro agrônomo e extensionista do Incaper Felipe Lopes Neves.
Ele explica que, por meio de uma ação integrada, os escritórios do Incaper de Mucurici e Ponto Belo criaram, há cerca de nove meses, uma unidade demonstrativa de palma forrageira.

O local tem aproximadamente três mil metros quadrados e fica em Mucurici. No final de 2015, mil mudas do cacto foram plantadas. Atualmente, a unidade conta com cerca de 4 mil plantas.

Estiagem
Além de divulgar a tecnologia de cultivo inovadora na região e apresentar uma alternativa para a alimentação dos rebanhos em períodos de estiagem, a unidade vai servir como futuro banco de raquetes-semente para a propagação de novas áreas. A previsão do Incaper é de que, a partir de 2017, as mudas comecem a ser distribuídas, gratuitamente, para os produtores rurais.

Na avaliação dos técnicos do Incaper, a utilização da planta será uma alternativa principalmente para os municípios que estão sofrendo com a estiagem.

No Norte do Espírito Santo, as plantações de cana-de-açúcar praticamente sumiram. Com isso, o produtor de leite está tendo que comprar cana da Bahia ou de Minas Gerais a um custo de R$ 150 a R$ 200 por tonelada.

“Nosso objetivo é popularizar o uso desta forrageira na alimentação de animais, além de apresentar formas de propagação desta espécie e mostrar diferenças entre os gêneros botânicos cultivados. Por fim, estamos testando formas de plantio, adubação e manejo”, conclui Neves.

Por dentro
- A planta
A forrageira é uma planta que tem como característica a alta tolerância à seca, e pode ser adaptada de forma especial para absorção e aproveitamento de água em ambientes de condições adversas, suportando longos períodos de escassez hídrica.

No Nordeste do país, a espécie chega a produzir 700 toneladas por hectare em um ano, enquanto a cana (que também é usada na alimentação animal) produz no máximo 120 toneladas por hectare.

- Utilidade
A espécie é um poderoso instrumento de apoio para a convivência da pecuária regional com as secas, sendo fonte não apenas de alimento, mas de água em regiões onde este recurso é escasso até para a população humana.

- Introdução
A espécie foi introduzida no Brasil no final do século XIX. Inicialmente, não era encarada com cultura agrícola, sendo geralmente plantada em solos de menor fertilidade para ser usada na produção de corante.

- Atualmente
O Brasil é o maior produtor mundial de palma forrageira. Estima-se que exista cerca de 500 mil hectares de planta somente no Nordeste.

Em Mucurici
Os técnicos do Incaper irão avaliar a produção de forragem obtida em dois sistemas de plantio, visando à obtenção dos primeiros resultados práticos da adoção desta tecnologia no Espírito Santo para apresentar aos produtores rurais.

Planta também tem fins medicinais
Com a popularização da palma forrageira no Extremo Norte do Espírito Santo, existe ainda alternativas econômicas além da alimentação humana e dos animais, como a produção de medicamentos, matéria prima para cosméticos, cercas vivas, paisagismo, conservação e recuperação de solos.

De acordo com os técnicos do Incaper, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) reconhece o potencial da palma e sua importância no desenvolvimento das regiões áridas e semiáridas do mundo por meio da exploração das várias espécies existentes.

No Espírito Santo, o cultivo da planta segue os princípios idealizados pelo engenheiro agrônomo Paulo Suassuna, precursor do cultivo intensivo da palma.

As espécies cultivadas no Estado são forrageiras muito utilizadas como alternativa para suplementação alimentar animal em regiões semiáridas do Brasil, mas também em outros países dos continentes americano, africano e asiático.

A planta serve para alimentação humana e de bovinos, caprinos, ovinos e suínos. Além das suas estruturas chamadas de cladódios, o cacto também dá frutos conhecidos como figo-da-índia.

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