Maiara Frieber tem 28 anos e levava uma vida normal, com hábitos saudáveis quando começou a sentir os primeiros sintomas: “Durante a noite me incomodava muito. Sentia muita falta de ar, cansaço, taquicardia e uma pequena dor nas costas”. Na emergência de uma unidade médica, Maiara ouviu que o problema se tratava de um processo alérgico, por conta do clima seco de Petrolina (PE), cidade para a qual havia acabado de se mudar. Ela foi medicada e voltou para casa. 
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Dias depois os sintomas não passaram e Maiara procurou um pneumologista para investigar o problema respiratório. Foi aí que surgiu a suspeita do médico: Maiara poderia ter um tromboembolismo pulmonar (TEP). Trata-se de um quadro grave que ocorre quando um coágulo localizado em uma das veias das pernas ou da pelve se solta, viaja pelo organismo e se aloja em uma das artérias do pulmão, obstruindo o fluxo de sangue.
Após passar por exames, o diagnóstico foi confirmado e Maiara ouviu algo que a deixou surpresa. Após investigadas as causas da TEP, o médico chegou à conclusão que os coágulos que Maiara trazia no pulmão tinham como causa o uso prolongado de sua pílula anticoncepcional.
Maiara é apenas um dos casos de trombose relacionados às pílulas anticoncepcionais que têm vindo a público nos últimos meses. Mas será que toda pílula anticoncepcional pode causar este tipo de problema? OVarela Notícias conversou com a Dra. Adriana Monteiro, médica obstetra ginecologista na Maternidade Climério de Oliveira-UFBA e no Grupo Obstare de Assistência ao Parto Humanizado. Ela esclareceu as principais dúvidas em relação ao uso de anticoncepcionais e os riscos de trombose.
Varela Notícias – Existe motivo para pânico das mulheres que fazem uso de anticoncepcional?
Dra. Adriana – Não existe motivo para pânico, apenas deve existir o cuidado de sempre se usar qualquer medicação após avaliação médica.  A automedicação, problema sério e grave no nosso país, vem expondo mulheres sem indicação de anticoncepcional a usá-lo de forma  banalizada, muitas vezes com indicação feita por leigos. Os anticoncepcionais hormonais são medicamentos e como qualquer medicamento, precisam de prescrição e orientação medica.
VN – Todas as mulheres devem se preocupar? Todo contraceptivo hormonal pode gerar algum tipo de risco para as mulheres?
Dra. Adriana – Os contraceptivos hormonais (aí se incluem as pílulas orais e vaginais, implantes de hormônios, injetáveis mensais e trimestrais, anel vaginal e DIU hormonal) têm indicações para cada tipo de mulher, de acordo com sua saúde geral. Condições de saúde como trombofilia (tendência à  trombose ou episódio de trombose na gravidez ou após cirurgias), hipertensão, obesidade (até mesmo sobrepeso) doenças reumáticas,  doença renal, hepática,  cardíaca não podem usar qualquer hormônio. Tais pacientes precisam de hormônios específicos para suas condições. Mulheres com esses problemas não podem trocar de medicamento ou até mesmo iniciá-lo sem passar por um médico que avalie seu risco para trombose, acidente vascular cerebral e alterações no fígado.
VN – Em quais casos o anticoncepcional é contra indicado?
Dra. Adriana –  Os hormônios contraceptivos combinados, ou seja que usam duas drogas (um estrogênio e outro progestagênio), que são os mais encontrados nas farmácias, tem contra indicação relativa. Ou seja, o uso desses anticoncepcionais deve ser analisado caso a caso pelo médico em diabéticas, mulheres obesas ou com sobrepeso, sedentárias e acima dos 40 anos. Eles têm contra indicação restritiva mesmo (ou seja, devem ser suspensos em quem está usando) nas mulheres hipertensas, com doenças renais e do fígado, trombofilia ou passado de trombose, obesidade grave, doenças reumáticas como lúpus ou artrite reumatoide, varizes de moderadas a graves, mulheres acamadas, com problemas cardíacos, aneurisma cerebral. Nessas mulheres o uso dos hormônios aumenta muito o risco trombose, acidente vascular cerebral (“derrame”), infarto do miocárdio, e piora das varizes.
Ou seja, os anticoncepcionais podem sim trazer riscos à saúde, desde que sejam usados sem orientação adequada.
VN – A trombose pode acontecer em qualquer mulher ou apenas naquelas que têm histórico familiar, antecedentes ou tendências? Que tipo de hormônio pode causar risco de trombose?
Dra. Adriana – Mulheres têm uma maior tendência à trombose do que os homens (considerando ambos na mesma idade e condição de saúde), devido aos nossos próprios hormônios chamados estrogênicos, que nos ajudam no ciclo menstrual. Suspeitamos que uma mulher pode ter um risco maior de trombose quando ela tem abortos espontâneos de repetição (mais de 3), história na família de trombose, história própria de trombose após cirurgias ou durante/após a gravidez.
Mas a trombose pode ocorrer em qualquer pessoa. Os fatores principais que nos levam à  trombose são as condições de saúde que levam o sangue a não circular bem através dos vasos. Assim, obesidade, sedentarismo, cirurgias pélvicas (cesarianas, histerectomias, miomectomias), cirurgias ortopédicas grandes (de quadris, nas pernas, por exemplo), doenças que deixem a mulher muito tempo imobilizada ou na cama, e mulheres fumantes são fatores, dentre outros, que podem levar a qualquer uma a desenvolver trombose. Os hormônios combinados (ou seja, de duas drogas) adicionaram riscos importantes para essas pessoas.
VN – De que forma a pílula pode interferir no sistema circulatório da mulher?
Dra. Adriana –  A trombose é  um problema de saúde que se caracteriza pelo entupimento de uma artéria ou veia por coágulos que se formam erroneamente no meio do vaso impedindo a circulação correta do sangue. Os coágulos são formados normalmente em vasos que se lesionam, como quando nos cortamos ou sofremos acidentes ou cirurgias. O corpo, para evitar a perda excessiva de sangue, promove os coágulos e assim as hemorragias melhoram. Na trombose é como se o corpo estivesse entendendo uma mensagem “errada” criando um coágulo onde não há “vaso cortado”. O que causa essa interpretação errada é o sangue parado naquele vaso por muito tempo, a viscosidade própria do sangue e as doenças ou uso de medicações que pioram essa condição natural de defesa do corpo promovendo os coágulos em vasos “normais”. Os hormônios combinados agem justamente no “disparo” da cascata de coagulação  em pessoas com fatores de risco.
VN- No caso dos implantes hormonais (para reposição ou para contracepção), existe o risco de tromboses ou câncer?
Dra. Adriana – Sim. Os implantes são hormônios combinados em pequenos bastões inseridos sob a pele da paciente e são contra indicados em mulheres com risco de trombose (obesas, fumantes, hipertensas, doenças crônicas, história prévia de trombose,  trombofilias, transplantadas,  durante ou logo após cirurgias de grande porte) porque aumentam o risco de trombose dessas mulheres.
Mulheres com história de câncer de mama ou ovários em familiares de primeiro grau (mãe,  irmãs, tias) não tem indicação de usar hormônio como forma de contracepção pelo risco aumentado de câncer de mama ou ovários.  Para demais mulheres sem risco de câncer os contraceptivos hormonais ainda são seguros, quando bem indicados.

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